Boa parte das pessoas sabe que aquilo que faz muito sucesso não é necessariamente um produto de alta qualidade. Na maior parte das vezes é apenas algo que deu certo e assim como em outras áreas ─ na literatura não poderia ser diferente. E este é o caso do livro Mago: Aprendiz de Raymond E. Feist lançado, aqui no Brasil, no final de 2013 pela editora portuguesa Saída de Emergência. A saga de o Mago é apontada por alguns como a “obra-prima” da Fantasia Épica que somente agora chega às livrarias tupiniquins trinta anos após o seu lançamento. Eu, pessoalmente, diria que para esta obra chegar ao co-status de obra-prima deveria no mínimo se assemelhar a obras do gênero como O Senhor dos Anéis, A Roda do Tempo e As Crônicas de Gelo e Fogo. Porém, Feist em seu livro Mago Aprendiz está tão distante de seus colegas (Tolkien, Jordan e Martin) como Paulo Coelho está de Shakespeare. Contudo, deixando de lado esta exagerada classificação de “obra-prima da fantasia épica”, Mago Aprendiz é um livro divertido e recomendável para todo admirador de Fantasia.
O mundo criado por Feist é fincado nos moldes típicos da fantasia medieval de estirpe tolkieniana com mapas elaborados e raças como elfos vivendo nas florestas e anões nas montanhas. Com isto temos o cenário perfeito para uma campanha do bom e velho RPG. As grandes cidades portuárias e a intrincada relação política do Reino merecem um destaque apropriado. E talvez esta receita, de um mundo tipicamente plasmado (em parte) da Terra Média e ao grande acontecimento dos jogos de RPG da época, seja o que garantiu o amplo sucesso de vendas e aceitação do público para esta obra.
O que muitos afirmam sobre as personagens de “Mago” sendo um dos fatores responsáveis pelo sucesso da obra me parece um tanto equivocado. As personagens de Raymond Feist são monocórdias. Elas não representam a dualidade e conflitos morais inerentes a todos nós o que torna as suas ações previsíveis e mecânicas. Os conflitos existentes nas vidas das personagens não foram trabalhados adequadamente parecendo muito mais uma sucessão de fatos assimilados do que deixando reflexos verossímeis em suas personalidades.
O “tom” infanto-juvenil do livro é na verdade o local adequado onde deveríamos encontrar esta obra nas estantes das livrarias. E esta classificação, que estou dando, não tem relação com a idade das personagens que no período no qual se passa o primeiro livro estão na adolescência e sim com a forma e conteúdo da escrita. O texto não apresenta complexidade o que o torna apropriado para leitores iniciantes que estão no início da adolescência.
Estou muito satisfeito com a belíssima edição de Mago Aprendiz que além de um belo acabamento (no livro como um todo — diagramação, revisão, etc.) e uma fantástica capa traz um esplêndido mapa encartado na edição brasileira. A editora Saída de Emergência é especializada em literatura fantástica e trabalha com muita qualidade em seus livros. Desejo vida longa à Saída de Emergência no Brasil e que ela nos traga muitos outros clássicos da literatura de fantasia.